As férias acabaram e chegou o momento de voltar pro colégio.desde aquele jogo de poker, nunca mais tinha conseguido enganar ninguém. Inclusive fiz algumas tentativas que me foram um tiro pela culatra. Parece que várias peças de louças acumuladas na pia são objetos grandes demais para desaparecerem ou parecerem limpos.ou os olhos da minha mãe são completamente invulneráveis aos meus truques. QUE TÍPICO. mas essa abstinência me trazia meio que alívio. Como eu conseguiria conviver com esse novo atributo sem contar nada para ninguém, inclusive minha namorada?
Mas isso não durou muito, ainda bem. Enquanto esperava na fila do metrô para comprar uma passagem resolvi fazer mais uma malandragenzinha, só para ver o que aconteceria.em vez de dar a quantia certa da passagem, dei um valor bem inferior e fiquei mexendo na carteira como se estivesse procurando o resto do dinheiro. Tentava não olhar para as pessoas ao redor, nem fazer nenhum tipo de movimento suspeito... Quanto menos atenção chamasse melhor.rapidamente recebi meu bilhete e o vendedor chamou o próximo da fila, me dando ainda 3,50 de troco.A adrenalina no meu corpo foi às alturas, como se eu estivesse praticando um assalto em público. O nervosismo foi tanto que só depois reparei na parte mais interessante. Não cheguei a falar uma única palavra. Só meu pensamento já foi suficiente para convencer o vendedor.
Veio-me uma sensação que nunca tinha sentido antes. Senti-me poderoso, intocável. Era um superhomem de mentirinha. na verdade cheio de mentiras.
Esse sentimento só foi superado por outro sentimento, o de culpa. Afinal eu tinha acabado de cometer um furto. Ninguém poderia me culpar por nada, afinal ninguém teria provas, mas eu sabia o que fiz, e não tinha dúvidas de que não devia ter feito. Esse sim foi um sentimento horrível que me fez perder a noção do tempo.
Decidi não fazer mais esses pequenos truques. Ninguém saberia o que fiz e não faria de novo. não haveria nada para me culpar.
Isso tudo não passaria de uma brincadeirinha boba de adolescente.
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